A Chlamydophila psittaci é um parasita bacteriano intracelular obrigatório que contém DNA e RNA com parede celular rudimentar que não contém ácido muriático ou peptidoglicano. São reconhecidas a Chlamydophila psittaci e a Chlamydophila trachomatis e C. pneumoniae as quais estão restritas ao homem.
A transmissão ocorre pela dispersão de corpos elementares presentes na “poeira´´ das penas e fezes secas pelo ar. O microrganismo pode sobreviver por períodos logos em fezes e secreções secas. Sua ingestão pode ocasionar infecção das células epiteliais intestinais. Transmissão vertical através do ovo tem sido descrita em algumas espécies como, por exemplo, o pato, periquito, gaivota, e sugerido em perus. O agente pode ser identificado nas fezes até 10 dias antes do aparecimento clinico da doença.
A “clamidia” pode ser encontrada de maneira regular ou intermitente nas fezes, urina, fluido lacrimal, secreção nasal, mucosa oral, leite de papo (pombos). As informações, até o momento, são insuficientes para estabelecermos o período exato em que os animais acometidos podem transmitir a doença. Cabe aqui ressaltar que algumas aves podem ser portadoras assintomáticas do agente e transmití-lo por até um ano para outros animais ou ambiente. Como sempre faço questão de orientar em meus textos, sempre realize consulta com um médico veterinário para avaliar a higidez de seu animal ou do animal a ser adquirido!
Algumas espécies como os cães, gatos, cavalos, porcos e o homem parecem não transmitir a clamídia para membros da mesma espécie. Em contraste, aves infectadas, gado, ovelhas e cabras podem transmitir aos membros de mesma espécie. O estresse pode resultar em sinais clínicos ou aumento da eliminação do microrganismo nos portadores. Além do estresse, outros fatores podem ser incriminados, como possíveis desencadeantes como transporte marinho, super população, e acasalamento.
Há diferenças consideráveis entre os sinais apresentados por espécies diferentes a clamídia. Aves jovens são mais susceptíveis do que os mais velhos. Os papagaios e araras parecem ser mais sensíveis do que os psitacídeos asiáticos e australianos. O período de incubação da clamídia é difícil de ser determinado devido às diferenças de tipos de virulência, variando as respostas clínicas e período de portador sem sintomatologia clínica. O período mínimo de incubação para psitaciformes naturalmente infectados é de 42 dias. Um período de 7 anos foi sugerido para periquitos.
Aves jovens expostas a clamidia com alta virulência apresentam óbito após sintomatologia de infecção sistêmica. Como sinais clínicos temos penas arrepiadas, baixa temperatura corporal, tremores, letargia, conjuntivite, dispnéia, coriza (pombos) e sinusite (periquitos). Emaciação, desidratação fezes amarelo-esverdeadas sugerindo comprometimento hepático, ou acinzentadas com grande quantidade de líquidos. A morte ocorre entre 8 – 14 dias, sendo que uma recuperação espontânea é rara. Psitaciformes ocasionalmente desenvolvem sinais neurológicos, convulsões, tremores, opistótono e paralisia. Os sinais clínicos associados com infecções crônicas e de baixo grau incluem deficiente cobertura de plumagem, emaciação, diarréia e algumas vezes conjuntivite. Pode ocasionar infecção localizada e conjuntivite nos fringilídeos. A conjuntivite e descarga nasal são características de clamidiose nos pombos domésticos. A conjuntivite pode ser o sinal clínico predominante de clamidiose nos patos e gansos infectados.
Ao exame macroscópico podemos observar hepatomegalia, peritonite, aerossaculite, perihepatite, pericardite, broncopneumonia, enterite e nefrose. Esplenomegalia é freqüentemente encontrada. Em machos sexualmente ativos, a clamidia induz a orquite ou epididimite resultando em infertilidade permanente.
A clamidiose é comumente o agente causal de hepatite em psitacídeos. Em exames radiológicos em animais em contato recente com outros animais acometidos pelo agente observa-se hepatomegalia. Tentativa diagnóstica é feita por ELISA de swab fecal, biópsia hepática com pesquisa por Stamp, Giemsa ou Macchiavello´s, por imunofluorescência IFA, fixação de complemento, aglutinação em látex e aglutinação de corpos elementares. Particularmente tenho utilizado a detecção da bactéria Chlamydophila psittaci por ensaio de PCR utilizando iniciadores de oligonucleotídeos específicos e por ensaio com endonucleases específicas. É bom salientar que o resultado do PCR negativo nem sempre indica ausência total de C. psittaci, pois uma ave infectada pode manter o organismo de forma intermitente. Nestes casos deve-se repetir o exame com nova amostra.
C. psittaci de psitacídeos, patos domesticados e perus nos Estados Unidos parece causar as mais severas doenças no homem. Clamidiose em humanos oriunda de animais de vida livre é rara. A clamidiose em humanos pode ser caracterizada por um tipo de gripe incluindo febre alta, dor de cabeça severa, frio, respiração curta e debilidade generalizada. Um caso não tratado evoluiu para uma pneumonia atípica ou sinais neurológicos causados por meningite, além dos produtos tóxicos da lesão renal e hepática. Nos casos crônicos podem ser encontradas insuficiências cardiovasculares e tromboflebites. Aproveitando este último parágrafo salientando o potencial zoonótico da clamidiose, abordarei de forma mais específica este tema tão importante a nossa saúde nos parágrafos seguintes.
O termo mais comumente encontrado na linguagem popular e literária é psitacose. A psitacose resulta tipicamente da exposição a aves infectadas com a Chlamydophila psittaci. A infecção geralmente se desenvolve através da inalação do organismo em forma de aerossol de fezes secas ou secreções respiratórias de aves infectadas. Outras formas de infecção são alimentação de aves com alimentos diretamente da boca do proprietário, manipulação de plumagem e tecidos contaminados. A contaminação homem-homem tem sido proposta, mas ainda não foi confirmada.
O período de incubação varia entre 5 e 14 dias, mas períodos mais longos já foram confirmados e publicados. O paciente apresenta fraqueza inaparente até severa pneumonia. Antes da identificação deste agente, 15 a 20% dos humanos infectados morriam, contudo menos de 1% dos humanos infectados nos dias de hoje, que receberam ou recebem tratamento adequado, vem a falecer. Humanos com infecção sintomática têm febre aguda, tremores ou calafrios, dor de cabeça, mal estar e mialgia. Geralmente desenvolvem tosse não produtiva acompanhada de dificuldade respiratória. O diagnóstico diferencial deve incluir Coxiella burnetti, Mycoplasma pneumoniae, Chlamydoplila pneumoniae, Legionella sp e viroses respiratórias como a influenza. O agente ainda pode acometer, além do trato respiratório, outros órgãos sistêmicos e ocasionar endocardite, miocardite, hepatite, artrite, ceratoconjuntivite, e encefalite. Falência respiratória, trombocitopenia, hepatite, e morte fetal têm sido descritos em mulheres grávidas com clamidiose.
As recomendações para minimizar os riscos de contágio da infecção quando em contato com aves suspeitas ou positivas para clamidiose aviária podemos citar a orientação de leigos quanto aos riscos, utilização de luvas, roupa, gorro e mascara de alta eficiência (N95) quando realizar a limpeza das gaiolas ou manuseio das mesmas.
Máscaras cirúrgicas não são eficazes! Quando há necropsia, os cuidados devem ser redobrados incluindo o umedecimento das carcaças com detergente e água para prevenir os aerossóis e partículas infectantes, agravado pelos ventiladores ou circuladores de ar ligados.
Manter registro ou arquivo preciso das negociações das aves tidas como sãs. O registro deve conter data de compra, espécie, fonte ou criatório, e qualquer descrição que seja relevante. O nome, endereço, telefone dentre outros dados devem se fazer presentes.
Isolar as aves recém adquiridas por 30 a 45 dias e testes laboratoriais.
Praticar medicina preventiva, como evitar que as aves tenham contato umas com as outras e transferência de material de uma gaiola para outra, utilizar fundo de gaiola ou substrato adequado para sua manutenção, ventilação adequada para prevenir a permanência de aerossóis em suspensão, não utilizar aspirador de pó durante a limpeza.
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