Vistas com frequência nas praias mais movimentadas do Litoral Norte, principalmente, no início da manhã e depois das 16h, as pombas-domésticas (Columba livia) disputam cada vez mais a areia com outras aves e banhistas. Considerada uma espécie exótica invasora, por ameaçar ecossistemas, hábitats e outras espécies, a ave pode causar doenças ao homem.

— No caso de espécies sinantrópicas, devemos avaliar basicamente os três As: abrigo, alimento e água. O essencial para o controle da espécie é investigar onde estão os abrigos, retirá-los e não fornecer alimentos às pombas — ressalta.


A grande oferta de alimentos provocada pelo homem alterou a dieta dos pombos. Eles ingerem menos insetos e sementes — em ambiente natural, os pombos auxiliam no controle destes animais e na dispersão das sementes. Com muito alimento disponível, a população de pombos cresce em um ritmo muito mais acelerado do que ela poderia atingir naturalmente. Na cidade, seus predadores, os gaviões, não são em número suficiente para controlar esse crescimento.

— O manejo e controle de pombas-domésticas em áreas urbanas é tarefa difícil e necessita de esforços conjuntos de cidadãos, governos e instituições de ensino e pesquisa — destaca.

Para se proteger das doenças que podem ser transmitidas por estes animais, o melhor é evitar ficar perto deles.
Aumento da população no Litoral
O professor de Zoologia Ignacio Benites Moreno, do Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Litoral percebeu um aumento notável no número das aves na região da barra do Rio Tramandaí. Ele salienta que as pombas são um franco sinal de degradação ambiental, causado pelo aumento desordenado da urbanização.

— Elas colocam em risco a saúde das espécies de aves costeiras nativas e migratórias que utilizam a barra. Algumas delas estão, ainda por cima, ameaçadas de extinção, como Trinta-réis-real e o Trinta-reis-de-bando — frisa.

— Começaram com três, depois com cinco, seis pombinhas. Já contei 12 juntas. Elas vêm de bando e chegam cedinho à procura de restos de biscoito e milho, deixados pelos humanos. Depois, vão embora quando esquenta — indica.
Problemas para a saúde das pessoas
Para a especialista em saúde da Vigilância Ambiental do Cevs/RS, o grande desafio é conscientizar o cidadão de que alimentar as pombas é prejudicial e causa problemas de saúde a população humana. Em Cidreira, o terceiro piso do prédio da prefeitura chegou a ser interditado em 2015 por conta da quantidade de pombas. Uma empresa especializada foi contratada para sanar a situação. Segundo o fiscal sanitário Pedro Teixeira, os agentes da Vigilância Sanitária municipal também fazem ações educativas junto aos moradores e veranistas.

Em Capão da Canoa, a prefeitura lançou campanha nesta semana nas redes sociais, e que deverá se espalhar pela praia, alertando os banhistas sobre os riscos de alimentar pombos na areia.

A reportagem encaminhou questões, por meio da assessoria de imprensa da Secretaria do Meio Ambiente e Infraestrutura (Sema), ao engenheiro florestal e diretor do Departamento de Biodiversidade da Sema, Diego Pereira. Até o fechamento desta reportagem, ele não havia se pronunciado.

Já a idealizadora do projeto Salvem as Pombas, de Caxias do Sul, Fernanda Juliana, defende a permanência das pombas-domésticas entre os seres humanos.

— A presença das pombas não deve ser encarada como risco sanitário — afirma.

Fernanda toma como base um parecer da Sociedade Brasileira de Infectologia, publicado em 2018, que diz “o extermínio ou remoção de pombos urbanos não irá causar impacto na incidência ou prevalência da criptococose e da histoplasmose em municípios brasileiros. A grande maioria dos indivíduos expostos não adoece, pois a resistência natural a essas doenças é elevada entre os humanos. Essas micoses sistêmicas podem acometer pacientes imunodeprimidos graves. Outros grupos de risco incluem pacientes transplantados.”


Doenças que podem ser causadas pelas pombas:

Criptococose: transmitida pela inalação da poeira contendo fezes secas de pombos.
Dermatites: parasitose causada pelo piolho do pombo, que provoca erupções na pele e coceiras semelhantes às de picadas de insetos.
Histoplasmose: doença provocada por fungos que se proliferam nas fezes de aves e morcegos. A contaminação ao homem ocorre pela inalação dos esporos (células reprodutoras do fungo).
Ornitose: doença infecciosa provocada por bactérias. A contaminação ao homem ocorre pelo contato com aves portadoras da bactéria ou com seus dejetos.
Salmonelose: causada pela ingestão de ovos ou carne contaminados pela bactéria Salmonella spp. presente nas fezes de pombos e outros animais. Gera uma toxinfecção alimentar com sintomas como febre, diarreia, vômitos e dores abdominais.


Saiba mais sobre a pomba-doméstica


Mede entre 28 e 38 centímetros. Tem a cabeça pequena e redonda, com corpo pesado e plumagem macia e rica em pó.
De cinco a seis vezes por ano, a fêmea coloca dois ovos, que eclodem entre 17 a 19 dias.
Os filhotes abandonam o ninho com um mês de vida.
Um pombo pode viver até 15 anos nas cidades, mas a média fica entre três e cinco anos.
FONTE: Ana Luiza Tartarotti, especialista em saúde da Vigilância Ambiental do Centro Estadual de Vigilância em Saúde (Cevs/RS)

Não confunda pomba-doméstica com pomba-rola
A pomba-rola (Columbina talpacoti), ave do Brasil, não transmite doenças. Mede entre 12 e 18 centímetros, o macho tem penas marrom avermelhadas e a cabeça cinza azulada. A fêmea é parda. O desmatamento teria facilitado a expansão desta ave, principalmente nas áreas de pasto e agricultura de grãos.